quarta-feira, outubro 29, 2003

Médias e outras medidas de descontentamento

Uma pessoa com a cabeça num forno e os pés num frigorífico está a uma temperatura média agradável, afirmava um professor de economia da UCP. O seminário era curto mas o assunto era grave.
Deixei-me levar para uma preocupação; produtividade. Sim, porque hoje em dia toda a gente fala dela como a panaceia de todos os males. Sem querer tirar conclusões, vou aflorar em voille d’oiseaux dois exemplos conhecidos(case studies dirão os entendidos).
Se considerarmos a produtividade portuguesa o padrão, i.e. medida de referência para comparação, encontramos no Luxemburgo o dobro da nossa produtividade; de facto, é o primeiro da Europa. Se acrescentarmos ainda que 30% da sua população activa é constituída por portugueses, podemos ser levados a pensar que a diáspora provou onde os nossos governantes e gestores falharam. Nada de mais falso. Eles falharam é certo, mas há mais!
O que é a produtividade? Encontramo-la usando a fórmula “PIB €/hora de trabalho efectiva a PPP” (PIB: Produto Interno Bruto; PPP: Paridade dos Poderes de Compra).
Não me insultem; eu também sou um leigo! Contudo, não podemos deixar de reparar que a receita faz parte da fórmula. E de onde vem o PIB do Luxemburgo? Do trabalho dos taxistas e das empregadas domésticas portuguesas? Infelizmente não; o Luxemburgo é um Offshore e isso canaliza por si só capitais externos que permitem obter o tal desempenho (performance para alguns). Aqui, os portugueses baixam a média ao arrepio do que se apregoa. Dirão, alguém teria de conduzir os táxis ...
Falemos agora da intocável Irlanda, exemplo enciclopédico de visão e estratégia. Será assim?
A língua, a localização, a mão-de-obra barata (à época) concentraram várias Auto-Europas num país que tem menos de metade da nossa população. O grosso do crescimento deve-se à imigração já que o crescimento natural foi de 1% ao ano. Importaram-se especialistas para os novos postos de trabalho criados. Entram capitais dos accionistas, saem capitais com os imigrantes. A maioria dos bens e serviços são para exportação. Então o que fica? 92 km de auto-estradas , infra-estruturas de indústrias, maior oferta de trabalho, estímulo para o ensino e impostos. Estão melhor do que nós certamente, mas também a Irlanda tem um longo caminho a percorrer para que os seus sejam iguais aos que acolhem. Até lá dependem deles! Dirão, também os árabes ...
Está aberta a mesa; o tema vai à discussão e as hostilidades ficam nos comentários. Admitem-se vitupérios dos economistas. Boas médias!

O tempo está a contar ...

Atrevimento o meu; santa ignorância!

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