sábado, setembro 24, 2005

Are you talking to me?

Confesso! Não resisti, também eu, à necessidade urticante de rabiscar. Se ainda tivesse graça ... mas não, desengane-se; aqui mora tão só a provocação, exacta, mordaz, e onde a paixão não abafa a razão.
Se aqui tocar e for tocado, então, já ganhei o meu tempo.


Foi assim que comecei esta aventura, ainda longe de perceber o alcance que ela teria na minha vida. Dois anos! Tempo em que partilhei ideias, pensamentos, angústias e risos convosco. Tempo em que vos escutei, nem sempre em sintonia mas sempre atento. Tempo em que senti o infinito prazer de dar alma às palavras; pobre, é certo, mas sempre no meu melhor.
O Exacto acaba aqui, teve o seu propósito mas, tal como na vida, há momentos para dar vida a uma nova vida. Com ele morre o João Mãos de Tesoura, suicídio dirão, mas seria incapaz de escrever em seu nome depois de lhe tirar a alma, e essa deixo-a aqui para que a possa visitar sempre que queira.
Foi bom, muito bom! E agora que comece a festa, a casa é vossa; sirvam-se, abusem, salpiquem os tectos com champanhe, riam, gritem, hoje é tempo de Festejar!



Adoro-vos e, quem sabe, talvez nos voltemos a encontrar noutra vida; eu menos exacto e sem tesouras...

domingo, setembro 18, 2005

Descarrilar e perder a mona

Num país de brandos costumes e maus hábitos, foi elucidativo o debate entre Carrilho e Carmona. Escuso-me a comentar o que foi evidente; fica o vídeo para memória futura...



Como vai senhor contente?
Como vai senhor feliz?
Diga à gente,
diga à gente,
como vai este País!

segunda-feira, setembro 12, 2005

Mamografia

Há publicidade subliminar, mas eu prefiro a explícita!



Criança sofre...

Conversas impossíveis

Ele já não a ouvia há muito, não fora por desinteresse mas simplesmente porque aconteceu assim, sem obrigação nem necessidade. Telefonou-lhe, como estaria?
Encontrou uma alma ressentida, insurgida com a ausência; disse-lhe que ele estaria a ressuscitar mortos, que não estava com paciência para cenas e que ainda não tinha sido desagradável mas que o poderia ser. Ele desafiou-a, o que seria mais desagradável do que aquilo, pensou? Ela, de pronto, desligou-lhe o telefone na cara, sem mais nem porquê.
Ele, depois de ponderar, enviou-lhe uma mensagem, “Não foste desagradável, foste boçal!”. Recebeu a confirmação da entrega da mensagem e sorriu, não sabia se ela alguma vez alcançaria a diferença.



Fala mais alto, mal te ouço...

quinta-feira, setembro 08, 2005

Sentir-me em ti

Fui hoje ao hospital e encontrei este texto perdido, de tão extraordinário não resisti a publicá-lo.


Levei a mão à testa para confirmar. Claro, o calor e agora o suor, mais uma gripe estival. Procurei o interruptor; que chatice, estava sempre onde não devia estar. A luz irrompeu de pronto e no meio do clarão adivinhei a gaveta, mesmo ali, guardiã de remédios sábios e de outros menos estudados. A caixa azul surgiu no meio de outras tantas, todas usadas, todas testadas. Senti uma dor forte como se a garganta se fechasse para o negar. Bastou-me um golo mais, agora sim, bastava esperar. Fechei a luz automaticamente e deixei a mão agarrada ao interruptor, como se na escuridão precisasse de uma segurança disponível que se mostrasse lesta aos meus medos.

O turbilhão aproximou-se do tecto, sim, recordo-me bem. Primeiro foi a cama e logo depois senti-me também eu a rodopiar. A força que me empurrava para baixo era tremenda, assustadoramente decidida, não a conseguia estancar e quando me preparava para iluminar o pesadelo senti o interruptor a saltar-me da mão. Todo eu rodava numa dança sem parceiro, e num movimento só projectei-me no centro da tempestade, a queda superou a vertigem, sempre, sempre em queda, sempre, a queda...

A pancada seca acordou-me, sentia-me dorido mas diferente, incrivelmente diferente. A dor não era desconfortável, parecia que era esperada e agora eu aceitava-a. Recordei a queda que dei em menino, no susto que os meus pais apanharam quando me viram todo arranhado. Um filho único tem atenções que nem mesmo ele percebe.

A dor corria agora do peito até às coxas, sim, seria o tronco o mais afectado. Procurei a dor com a mão tacteando primeiro o peito. Um arrepio percorreu-me a coluna, só poderia ser sonho, delirava. As mãos torneavam uns seios perfeitos, demasiado perfeitos para serem reais . Sonhava portanto e descansei com a evidência. Sorri, iria tirar partido da aberração, seria mulher por um sonho apenas, como seria fácil percebê-las, sentir onde elas sentem, pensar como elas pensam; fantástico, iria conhecer a outra margem sem medo, sem juízos ou acusações.

Continuei a percorrer o peito, primeiro à descoberta e depois com mais determinação. E se primeiro tacteava, usava agora as mãos para acariciar o que só antes imaginara. O ardor aumentava com movimentos mais ousados, sentia o corpo a pedir domínio; o peito, esse, latejava à medida que os dedos comprimiam os pequenos mamilos que em resposta imediata se erguiam determinados à procura de mais, no desejo de tudo. Deixei uma mão no peito e lancei a outra à descoberta do que me faltava, sentir-me completa, mulher.

O estômago era perfeito, os abdominais desenhavam aí diagonais salientes e simétricas . Os dedos mal tocavam a pele, só sobrava o arrepio. Parei, senti um tufo em que me emaranhava e que me pedia força e o contrário. Pressionei, apoiei a mão e deixei-a comprimir numa sequência ritmada pelo desejo. Qual cobra que muda de pele, um dos dedos libertou-se para descer mais ainda, a descoberta estava por consumar.
Arqueei o corpo, primeiro por estranhar o toque, depois pelo fogo que me percorreu de imediato como nunca tinha experimentado. Senti a boca ácida, a respiração mudara e o corpo estava agora mais quente. A vontade era muita, não queria parar e aquele dedo não iria falhar.

A vertigem voltava no meio do desejo e do prazer. O turbilhão era agora mais violento e empurrava-me para cima. Levitei como um pião que salta do chão para ganhar velocidade. "Consegue ouvir-me, Pedro?". As palavras soavam longe mas aproximavam-se vertiginosamente.

"Pedro, correu tudo bem!". Uma mão segurava a minha, sem dúvida uma mão amiga pelo cuidado com que me agarrava. Entreabri os olhos e antevi silhuetas conhecidas na luz que agora conquistava. Primeiro a mãe, depois o pai. Ambos sorriam, não muito é certo, um sorriso sofrido mas solidário. "O que correu bem?", perguntei. Um homem de bata branca aproximou-se e, colocando uma mão no meu ombro, tranquilizou-me, "Tudo, Pedro, tudo! Agora já lhe podem chamar Ana, parabéns!"



Estou como o bebé, pasmo!


Nota: Um post polémico obriga a comentários mordazes!

terça-feira, setembro 06, 2005

Inscrevo

Cada vez escrevo menos, cada vez me apetece escrever menos, não que a inspiração se tenha esvaído, falo só da vontade, do interesse em pensar devagar pautado pelas teclas que ouço dedilhadas, e depois para quê se em nada melhoro, e não falo só da escrita, pobre de mim, mas do debate que suscito, e se não procuro o comentário fácil também não o gosto presunçoso, pensando bem não me posso queixar, basta visitar outros para ver o mesmo quando não pior, “gostei muito”, “és corajoso”, “mexeste comigo”, só para falar nos mais banais, não, prefiro o silêncio, que fique a ideia que nada escrevi, e se calhar nem isso fiz, letras ao acaso numa miríade de palavras que lidas de trás para a frente podem ganhar mais alento, ou talvez não, nem assim, porra, não me apetece escrever mesmo nada, hoje ficava-me por um comentário, é isso, um post em branco e um comentário, “não sei se gostei, o branco é pouco honesto, investe-se de virtudes que não são as minhas, prefiro outras cores, mais quentes, mais profundas”, era isto, simples sem ser banal, complexo sem ser arrogante, gostava de saber escrever assim, como gostava de saber escrever mesmo sem me apetecer fazê-lo, nem uma letra apenas, guardar só para mim esse dom, senti-lo latejar e não o partilhar, ser egoísta do escasso, ter um segredo e matá-lo, negando-lhe ali mesmo o direito ao sucesso, raiva dirão, talvez, raiva de não querer escrever e de nem isso ser capaz de cumprir, como é que não se escreve sem dom, isso não sei, os meus silêncios não são brancos, mas o que faço, escrevinho, talvez assim não se escreva, escrevinhando.



Num caderno os comentários são a vermelho...


Acompanhar a foto com este pensamento: Como é excepcional ter amigos que resistem ao tempo, às mudanças, às deles e às nossas, saber que nem tudo se perde, ter a garantia de que uma amizade assim tem uma lógica, a de que nós apesar de tudo não somos piores do que já fomos.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Pensamento vago

Pior do que a mentira é a infâmia, vem sempre de quem está próximo e isso garante-lhe o alcance do tempo. Esta vertigem só se esgota na razão dos outros, mas nem sempre os outros têm razão.



Com uma mão sujo a outra...


KARAOKE
Listen to your heart (remix), D.H.T

Frases inúteis de algibeira

Sempre que planeie algo:
Vou comprar uma lanterna antes que se faça tarde.

Quando ouvir um não:
Quem não tem cão, não tem letreiro.

Sempre que vos pedirem dinheiro:
Com o divórcio perdem-se os sogros mas ganham-se cobaias.

Quando o pressionarem:
Depois de morrer vou escrever a minha biografia.

Sempre que quiser ser evitado:
Se não fosse a sida a hepatite era mal vista.

Quando quiser insultar alguém:
Quem chegar atrasado tem dificuldade de concentração.

Sempre que acabar uma relação:
Não vale a pena molhar-te, com este calor seca tudo depressa demais.

Quando falar sozinho:
Antes só do que abandonado.


Quando questionarem o blog:

Num bolso vazio não cabe mais nada...