quarta-feira, outubro 29, 2003

Brandos costumes, maus costumes!

Ainda e sempre os portugueses, essa mole humana que deambula entre um oceano de memórias e uma fronteira de hesitações.
Um tio emprestado, de quem gosto em particular, fez, há anos, uma viagem de carro à  Dinamarca. Aventura que baste, a proeza resultou de outra crise já passada. O mau génio era compreensível; terminar as férias e ter de regressar ...
Encontrava-se com a família na incomodidade do seu carro, numa das filas de acesso ao ferry boat que os haveria de levar para o continente. Passa um carro na lateral sem oposição audível. O meu tio, português, faz-se ao homem na profunda convicção que não faria menos, e, seguindo-o, imaginou-se já dentro do barco. Sim, porque de parvo não tinha nada! Para surpresa de todos, o carro era afinal de um funcionário que, já perto do ferry, mudou de direcção indo parquear junto a um dos edifícios administrativos. Confrangido, o português forçou a entrada no início da fila. A buzinadela foi instrutiva; coraram todos tendo até o mais miúdo escondido os olhos abaixo da janela.
Vivendo a vergonha, de olhar fixo no ferry, o meu tio evitava olhar os carros vizinhos, num retiro próprio de quem se penitenciava. Aproxima-se agora um carro que buzina com parcimónia. Afastam-se todos como se fora uma ambulância. O português ruborizou; onde já se vira; seria aquele porventura mais do que o magrebino? Já no ferry pergunta a um dos diligentes funcionários que laçava as rodas do seu carro. “Porque passou aquele senhor à frente, e logo a buzinar?”. A resposta foi pronta e a digestão mais complicada, “Porque estava com pressa!”

Buzinadelas da vida!

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