Sou distraído pelo meu irmão que joga freneticamente no novo modelo da Playstation. Mais um sucesso da Microsoft-Sony. Passa horas no Flight Simulator cujo realismo não se esgota nos hologramas, oferecendo sensações de voo só possíveis com o atenuador de gravidade. Acabou de vomitar! Parece que a aterragem no Funchal fora mais violenta do que o normal. Ajudo-o. Tornara-se um vício; os jogos do meu tempo não eram assim. Filho do terceiro casamento da minha mãe, banalidade nos dias que correm, ostentava a fragilidade dos asmáticos, consequência de uma gravidez tardia. Felizmente tinha Pai, o que não era verdade para todos desde a evolução da clonagem.
Fomos apanhar ar; nada melhor do que um passeio. Chegado à garagem reparo que as pilhas de hidrogénio da moto estão descarregadas. Iríamos a pé.
Atravessámos a rua em direcção ao Parque. Na passadeira anunciavam em directo um jogo da selecção. A Europa já não vencia ao Brasil há 16 anos e era preciso terminar o jejum. "Estão todos convocados!", o slogan parecia velho e gasto. Paro num quiosque digital. Aproveito para carregar no relógio alguns artigos que leria mais tarde. "Lê-se cada vez menos, nisso nem a realidade virtual ajudou", pensei. Compro também cigarros. Os testemunhos em vídeo dos rótulos deixavam-me petrificado; felizmente a cigarreira inibia estas modernices. O relógio anunciava uma oferta; na compra dos artigos vinha uma reedição digital de um clássico, o omeupipi. Desliguei o holograma não fosse o meu irmão reparar nas imagens. Cruzo-me com um velho. Teria bem mais de cem anos. A cara não me era estranha ... comecei a recordar-me ... José ...
Sinto uma indisposição; acordo sempre mal!
Realidade e ficção ... Ficção e realidade ...
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