quarta-feira, novembro 26, 2003

Trapos e desperdício

Somos cada vez mais e piores; mais porque a medicina ajuda, piores porque a qualidade não é muita. Tomámos por desafio prolongar a nossa estada, como se isso nos perpetuasse. Ao enganarmos o destino podemos atraiçoar o futuro e, assim, comprometer o presente dos que nos sucedem. O problema será deles certamente ....
Arrepio-me ao ver-me com cem anos, na reforma há pelo menos trinta, com o dia emparedado por medicamentos e fisioterapia, ouvindo problemas de descendentes que mal conheci. Será egoísmo o querer impor-me, será vaidade o tentar perpetuar-me. Será ainda pior sentir-me tolerado, com aquele incómodo em que pedir desculpa só agrava, mesmo se sentido.
Perfeita é a Natureza, pois reduz a complexidade por razões que tardam em ser compreendidas. Cada qual tem o seu ciclo e há uma causa que o justifica; permitir que haja outro ciclo, e mais outro, e tantos haverá quantos os necessários porque na Natureza não há desperdício.
Consegue imaginar o rugido de um leão centenário? Eu também não!

A esperança de vida aumentou, pena é ser só no fim ...

Koelz, "Thou Shalt Not Kill", 1934.
Para escrever este post vesti a pele de um sexagenário que não sou. O pessimismo está explicado.

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