domingo, novembro 02, 2003

Ensaio sobre a loucura (4)

(continuação de posts homólogos)

Caros leitores, vou ter que interromper a transcrição da carta porque me foi enviado um email que passo desde já a post!

Sr. JMT
Fui avisada que estaria a colocar no seu blog uma carta a que deu o título de “ensaio sobre a loucura”. Fui lê-la com os meus próprios olhos e não quis acreditar no que li. É torpe fazer-se o que se fez; não que a culpa seja sua, mas enviar uma carta só com a perspectiva de um dos lados, vai reconhecer que está longe de ser legítimo. Nem parece Exacto ...
Pois bem, passo a apresentar-me. Como já deve ter percebido sou a Odete, e peço-lhe que em público se refira a mim sempre pelo meu nome próprio. Já me bastam as chatices que tive com este episódio. Começo por lhe dizer que estou em Madrid. Fugi de todos os problemas; é incrível a distância que separa Lisboa de Madrid, e não falo de espaço mas de tempo, décadas! Aqui o espírito é mais aberto, mais liberal, mais honesto. Nada do que se passou aconteceria aqui, e não o digo por ofensa mas por crença profunda.
Primeiro, aparecem duas pessoas a escrever a carta, nada de mais falso, um e outro são a mesma pessoa. Não me pergunte porquê pois não sou médica! De facto só me apercebi disto no acidente. O Toino (vou manter este nome por pudor, o dele é mais vulgar) é um rapaz pacato, pouco brincalhão mas muito delicado. Surpreendia-me sempre com uma atenção, parecia ter uma sensibilidade quase feminina. Não que não fosse homem, que o era e isso o afianço aqui, mas ... dou-lhe um exemplo, tinha uma paciência infinita para esperar por mim numa loja enquanto eu fazia compras, atirava com uma simpatia quando menos se esperava; ao lado dele sentia-me princesa. Ao contrário do que foi dito na carta eu amava-o, à minha maneira mas amava-o.
Falemos agora do outro, o Carlos, chamar-lhe grosseiro seria para ele um elogio. Vou então contar-lhe como o conheci. O Toino exaltara-se com o facto de eu estar a promover a obra, sim, porque ele nunca teria essa iniciativa, essa ambição. Nós mulheres somos mais pragmáticas. A C... é minha amiga e após ter lido os textos ficou tão entusiasmada como eu. O Toino soube da publicação pelos SMS é um facto, deplorável, foi a primeira vez, e seria a última, que violou a minha privacidade. Fui ter com ele ao café do costume. Estava completamente alterado, as cervejas devem ter ajudado. Não o larguei; claro que fui com ele, tinha de ajudar a resolver o problema que criara.
O embate no muro foi violento e não se deveu a nada mais do que a um gato; ridículo mas é a pura verdade, era um daqueles gatos fedorentos ... o Toino, que é bom rapaz, ao evitá-lo foi atropelar num passeio ... você já sabe! Pensando bem, pela expressão que utilizou, “vão-se f...”, estou segura que já era o Carlos que guiava. De facto, ele podia tê-los evitado. Fiquei meia atordoada com o embate do air bag, vantagem de quem tinha um BMW à data. A mãe dele é que nunca mais o iria guiar. Tive medo, não tanto pelo acidente mas porque o Toino olhou para mim com um sorriso que não lhe conhecia. Senti-me só! Foi aí que conheci o Carlos.
Escrevi-lhe só para repor a verdade; amei o Toino; o Carlos repugna-me. Tamanha diferença no mesmo corpo foi demais para mim. Voltarei a escrever-lhe sempre que na carta houver imprecisões. Espero que publique este email na íntegra, sei que o fará.
Cumprimentos,
Odete R. T.

Continuarei com a carta amanhã se o cansaço não chegar.

Foto do Toino enviada pela Odete.

Mais uma cara familiar; a foto vale o que vale!
Aqui, parece ter óculos e ser menos loiro.

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