sábado, novembro 29, 2003

Em cantos

Há muito que os MadreDeus me esmiuçavam a curiosidade. Não tenho por eles qualquer paixão, não me provocam aquela comichão que só desaparece perante a repetição compulsiva. Reconheço, contudo, que a musicalidade das interpretações, o ar afável e simples dos intérpretes, e o reconhecimento inter pares veio a traduzir-se num rótulo de qualidade no meu imaginário. Os artifícios que criamos para ultrapassar as nossas limitações ...
Hoje fui ouvi-los. Aproveitei para conhecer o centro de congressos do Estoril. A irritação começou aí, felizmente iria acabar. O edifício prometia; a combinação de matérias nobres foi utilizada para sobressair o espaço que se encontra escorado por um pé-direito de pelo menos 3 andares. As paredes em vidro projectam o exterior como extensão da sala, na procura da dimensão que o local nunca lhe dará. O chão em xisto polido convida ao deslize e apresenta-se já riscado por outros caminhares. O auditório foi feito para ser andado e não sentado. Colocaram umas cadeiras avulsas alinhadas com o palco de onde se avistava primeiro quem há frente se sentasse. A aparelhagem de som era miserável, mesmo para um ouvido pouco treinado como o meu. Os focos, no alto, fizeram o que puderam, menos-mal.
Os visados subiram ao palco para apresentar o álbum Movimento. A primeira parte foi puro sofrimento; a monotonia dos acordes, a voz em falsete, e as letras nem sempre perceptíveis deixaram-me simplesmente derrotado. Senti o desconforto de estar a trair o espectáculo, no intervalo procurei refúgio noutros olhares.
O final da semana lega-me o cansaço que só curo com descanso sério. Foi a custo que regressei ao auditório, respeito pelo espectáculo pois o sono convidava.
As luzes esbateram-se para dar lugar aos focos multicolores. Senti que os olhos se cerravam e não lhes resisti. Os acordes iniciais eram do Pedro Magalhães que seria quase de seguida acompanhado pelo José Peixoto. O Carlos e o Fernando entrariam depois para dar corpo à voz da Teresa. Entreabri os olhos e fixei o fumo que dançava na corrente térmica provocada por um foco vermelho. Agora já sabia. Esta não era música para o ouvido; só perdido nos meus pensamentos a conseguia sentir no meu vaguear inconsciente, e como era bela deixei-me emocionar. Juro por Deus que são 5 anjos!

Haja o que houver eu estou aqui ...

É obrigatório ouvir os temas no site que foi distinguido com o prémio Prata na categoria entertainment, communication, culture no concurso de Web Design/2003 dos Prisma Awards.

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