segunda-feira, novembro 10, 2003

De Camões a Cervantes (2)

De um lado os moinhos, em frente a ilha dos amores. Quixote, o luso, quer por força conquistar os cata-ventos; Sancho, mais simples, fez-se de amores pela ínsua.
Os moinhos estão lá, tão só como são, mas Quixote não os vê assim. Serão dantescos e hostis e, na força da razão, juntou-se aos pares para indagar o Rei. Sancho cortejaria donzelas enquanto Quixote se alquebrava à força do inimigo. A deslealdade seria imperdoável se nada fosse feito, o reino perigava.
O Rei tudo ouviu, e fitando-o sério e grave perguntou “E o que sugere o nosso cavaleiro?”. A sala encheu-se de silêncio; agora ninguém olhava o monarca. “Aferrolhai as nossas damas pois elas serão as futuras mães do reino, o último reduto da nossa prole ...” exuberava Quixote quando foi interrompido pelo Rei que, levantando-se, contundiu “Infame! Queres tomar-lhe o pão e acusa-lo de galanteio ... será porventura melhor matar à fome do que dar de comer? O que seria da donzela sem par? Não será mais fácil conquistar um moinho do que uma donzela? E agora vai-te e leva contigo este ensinamento; maldito aquele que o simples intrica para ter cara capaz, bendito todo o que do complexo faz simples pois é lúcido!". Ainda hoje a Corte se interroga sobre o que o Rei pretendia dizer ...

Não há mar que nos separe!

VLADIMIR KUSH, US, 2003.
Quiz: será mais fácil a um espanhol vencer a nossa burocracia ou teremos nós mais dificuldade em entrar de salto no seu território?
Quixote: Pictures at an Exhibition: Baba-Yaga - The Great Gate of Kiev, Mussorgsky.
Sancho: Suite española: Castilla, Albéniz.

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