O Titó, homem sábio de muitas vidas aquém e além-mar, de bonomia e saúde invejáveis, olhava perdidamente o horizonte neste Alentejo que hoje reencontrei.
Eu: então Titó, não gosto de o ver com essa cara!
Titó: ah! “menin” João...
Há tratamentos que são uma deferência pelo carinho que se coloca nas palavras.
Eu:... quem o viu e quem o vê!
Titó: vou “ind”, vou “ind”... a terra ainda “nã m’quer”!
Eu: ó homem, há-de lá a terra querer carne ruim.
Titó: ha!ha! vem vossemecê “dzer-me isse” a mim, careca “d’o” saber, careca...
E levantando o boné, destapa a careca cuidadosamente protegida deste sol que aleija em rugas e cor quem por aqui labuta.
Eu: mas o que o preocupa Titó?
Titó: olhe, as gentes “d’agora”... a justiça que “n’existe”!
Eu: conte lá, que justiça?
Titó: fala-se “d’aqui” e “d’ali”, critica-se “n’é” verdade, e depois “nã” se pergunta...
Eu:.. o que é que não se pergunta?
Rematei, agora completamente atónito.
Titó: a verdade menino, a verdade! Veja bem, o que “tá dit”, “tá dit”, nem se pergunta “n’é”?
Eu: fizeram-lhe alguma injustiça? Foi isso?
Titó: a mim “nã”, “menin”, falo d’outros, do que "vêj" e "ouç"...
Eu: ah! O Titó saiu-me cá um filósofo!
Titó: sei lá bem o "qu’é iss"?
Eu: hahaha! anda um homem a estudar para isto, não é?!... mas olhe, tomara eu ter os seus olhos e ouvidos!
Titó: “nã” queira “menin”, “qu’os” seus “vêjan” coisas melhores; os "mês'ouvidos", graças a Deus, “vã ouvind” pior!
Eu e ele: hahahahahaha!