Tive, por sorte do destino, professores de história que não ficaram na minha. Sempre a achei enfadonha, um imbróglio de datas e nomes, e com demasiados acontecimentos sem grande relevo. É bom conhecer-se a história do nosso País, mas quantos de nós conseguem reter as quatro dinastias que por aqui passaram? E já não falo da República, pois se muitos conseguem recordar o primeiro rei deste condado, menos recordarão o primeiro presidente.
Hoje, porque me apetece, vou falar de seis reis e de uma rainha. Não foram grandes homens, mas a sua história foi-me tão escondida que me apetece recontá-la. De facto, nem só do terramoto de 1755 reza a última dinastia, a Brigantina (de Bragança, como o próprio nome indica...), houve outros factos bem mais interessantes e mal contados.
Depois de corremos com os espanhóis, que no pouco tempo que nos tiveram conseguiram baptizar as Filipinas no mundo que dividimos e não aproveitámos, valeu-nos a independência pois o orgulho ficou na segunda dinastia, a de Avis.
D. João IV, o primeiro dos Bragança, teve oito filhos, sete legítimos e um que reconheceu fora do matrimónio, embora nunca se soubesse o nome da mãe para bem da coroa. Nesse tempo ainda não havia o Serviço Nacional de Saúde, razão bastante para que os petizes não tivessem vida longa. Afonso VI, destinado a ser príncipe, teve que gramar com a regência por morte de dois irmãos. As manas mais velhas serviam para casamentos de conveniência, misturavam sangue entre casas reais numa promiscuidade capaz de fazer corar qualquer brasileira de alterne. Entre elas D. Catarina que casou com Carlos II de Inglaterra e fez do chá algo mais do que um mero desinfectante de água...
Afonso VI casou mal, isto é, nunca devia ter casado. Tal como os outros cumpriu a obrigação real. A mulher, desiludida com a indiferença do marido, tudo fez para o arruinar. Aliou-se ao cunhado, D. Pedro, e conseguiu afastar o primeiro-ministro e provar que o rei era homossexual. Daí ao exílio e à sucessão de D. Pedro II foi um átomo. O Papa, para condimentar o final, anulou o casamento e juntou os cunhados, que isto de ser rainha e perder a coroa é pior do que ficar divorciada e não ter mesada.
D. João VI, bisneto de D. Pedro II, teve, também ele, problemas conjugais. A mulher, D. Carlota Joaquina, gostava tanto dele como de todos os homens que encontrasse. Os retratos não enganam, era feia como um bode, mas consta que era insaciável e que o rei se limitava a tratá-la por rameira ou qualquer outro sinónimo que lhe ocorresse. O herdeiro, D. Pedro, conheceu o Brasil por vontade de Napoleão já que a família deu de frosques perante a ameaça da invasão. Aí ficou como príncipe regente mesmo depois do regresso da família. Desgastado com a devassa da mãe preferiu lançar o grito do Ipiranga e fazer do Brasil um império, que isto de se viver com a vergonha é preferível fazê-lo no recato do Carnaval. O Pai, corno manso, nomeou um conselho para determinar a regência. De indefinição em indefinição tomou a mãe maior destaque, tendo no filho Miguel um apoiante indefectível. D. João VI, sem saída, exilou o filho na Áustria onde não consta que tenha expiado os seus pecados. Com a morte do rei levantou-se o problema da sucessão, não tão grave como a de Durão Barroso. Embora separado de Portugal, o conselho de regência nomeou o imperador do Brasil rei de Portugal. D. Pedro, jovem habituado aos prazeres que o calor das mulatas desperta, não tardou a declinar a honra a favor do irmão Miguel desde que este casasse com a sua filha quando ela tivesse idade para procriar. Isto de casar tios com sobrinhas foi um hábito que se perdeu por razões que agora não me ocorrem. D. Miguel, ainda com o “jetlag”, dissolve o ministério e dias depois é aclamado rei nas cortes. D. Pedro sentiu-se acossado. Abdica do império a favor do filho, D. Pedro II do Brasil, e regressa a Portugal passando pela Terceira para arregimentar tropas. Desde essa altura que esta ilha passa a ter importância geoestratégica, que o digam os americanos...
Os apoiantes de D. Pedro, que já não era imperador nem chegara a ser rei, ficaram conhecidos por liberais. A frota desembarcou no norte de Portugal tendo-se concentrado posteriormente no Porto. Cercados pelos absolutistas, apoiantes do rei D. Miguel, e não tendo tripas que chegassem para todos, rumaram para o Algarve que o tempo não era de afrontas. D. Pedro adoptou a táctica do espelho, fez o contrário de Afonso Henriques, começou a reconquista do Algarve até Lisboa. Conquistada a capital fez-se rei e, depois de mais algumas batalhas, mandou o irmão para à Áustria de onde nunca devia ter regressado. Foi um rei breve pois morreu poucos meses após o exílio de D. Miguel.
A filha, que nunca casou com o tio para alívio de todos, foi rainha aos quinze anos de idade. Já nesse tempo uma jovem tinha direitos que hoje se perderam. D. Maria II acabou por casar com um neto de Napoleão e irmão da segunda mulher do seu pai... um tio emprestado mas que durou pouco o que a levou a casar novamente com homem de maior saúde! Isto de se ter 15 anos...
Qualquer incorrecção é da responsabilidade do autor e da vida complicada e indecifrável dos personagens...