Ao nível dos gastos públicos há duas dimensões distintas, investimento público e despesas públicas.
A primeira, o investimento, insere-se na óptica económica, i.e. na perspectiva da criação de valor para todos os interessados (stakeholders), em particular o cidadão (sentido de missão pública). O aeroporto da Ota cai nesta categoria.
Sabemos, já o referi, da necessidade urgente em suprir a capacidade do aeroporto da Portela face a vários riscos; congestionamento de tráfego, acidentes, ruído, etc. Entenderam os técnicos que o aeroporto se situasse na Ota, razão que questiono face ao factor proximidade; de facto, Lisboa já é uma cidade periférica e afastar o aeroporto 40 Km é ampliar a sua periferia. Não concordo, assim, com a escolha estratégica da localização.
Será um bom investimento? Sabemos que há entidades privadas dispostas a financiar a 100% a construção do aeroporto tendo em vista a sua exploração. Conclui-se, assim, que o aeroporto é rentável; i.e. gera fluxos de caixa que anualizados ao momento presente dão um valor positivo, logo suprem o investimento e as despesas de funcionamento. O Estado, com aquele vício estatal socializante, decidiu investir 10% para ter uma golden share, algo que detém também na PT para não se excluir como decisor em sectores que considera estratégicos ou de valor social.
Por fim, o valor patrimonial do terreno da Portela paga “de per si” o investimento global do novo aeroporto, construído em terrenos rurais.
Acresce ainda que o investimento vai ser efectuado através de serviços e produtos de empresas que são na maioria de capital português, gerando assim uma saudável troca de bens e serviços que estimulará o funcionamento do mercado aumentando a riqueza do País.
Será então a decisão do aeroporto correcta do ponto de vista económico? Pelo que se leu, é!
A segunda, a despesa, diz respeito aos gastos que o Estado comporta com o funcionamento das entidades públicas.
O investimento público gera sempre despesas públicas. Com o aeroporto passar-se-à o mesmo. Contudo, o encerramento do aeroporto da Portela fará com que a maioria dos R.H. transitem para o novo aeroporto, razão essa suficiente para a centralização do tráfego num só local para evitar ineficiências de duplicação de funções. Assim, as despesas da Ota só serão maiores do que as da Portela no que respeita ao aumento do tráfego. No entanto, um aeroporto novo tem sempre vantagens ao nível funcional já que foi dimensionado segundo melhores práticas. Desta forma, haverá para além das eficiências de escala, eficiências de experiência.
Perguntar-se-à: o funcionamento do aeroporto aumentará anualmente o défice? A resposta é clara: Não! As receitas serão superiores às despesas! Os aeroportos dão lucro!
Sendo o projecto viável ao nível económico e financeiro, porque será que tantos o denigrem? Também aqui há duas razões:
A primeira é política; de facto, nunca houve solidariedade nas medidas estruturais; esta estratégia política tem funcionado num País que tem um povo iletrado ao nível económico e que não se deixa conduzir.
A segunda é técnica; os economistas têm muita dificuldade em simular cenários com várias variáveis dinâmicas; tendencialmente fixam “n-1” variáveis e estudam o comportamento da restante. O manifesto do grupo dos 13 economistas é respeitável só por serem pessoas de bem, mas de facto muitos deles têm responsabilidade no estado da nação, visão de mangas de alpaca universitária.
Tal como na barragem do Alqueva, investimento de inegável interesse ambientalista, agrícola e turístico, eu sugiro que também se escreva na Ota: “Construam-me, Porra!”.
Como entreter detractores: na caixa diz 9 anos... não estará pronto antes da Ota...
Nota: Seria interessante vermos a classe política e a económica a darem ideias para a valorização dos R.H. Precisamos de valorizar o nosso capital humano! O choque tecnológico não está na tecnologia disponível mas na capacidade de a utilizarmos!
3 comentários:
Burocracia, globalização, política, safadeza, corrupção, incopetência, má administração. E por aí vai...Não é só aí que a situação anda "preta".
Aqui vai de mal a pior. Aqui na minha terra a situação já está perdida, tão feia que banana tá comendo macaco.
O País vai mal... isso é algo dado como adquirido!
Pessoalmente nunca me interessei pelo assunto da construção do novo aeroporto da OTA, no entanto acho que isto chegou a um ponto em que é necessário tomar uma decisão imediata.
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