Vivi uma vida de excessos. Tantos, mas tantos, que mesmo as mulheres me cansam, nada me surpreende, só a genialidade de outro me fará despertar do desinteresse por tudo, pelo vulgar, pela alegria de iguais. Recordo o tempo em que passar a mão pela areia, senti-la, era prazer para o resto do dia. Revivo os dias em que os meus olhos se perderam no azul-turquesa de águas escondidas nos confins dos mares, distantes, mas sempre presentes. Lembranças que me ficaram e das quais nada sobra, nem espaço para compreender ou amar, estou cheio do passado, cheio, e com desinteresse tal que nem o grito da vida me acordará. Olho para baixo e nada vejo. Será? Talvez? Salto em frente como se o corpo ficasse para trás, só a alma me acompanha. A queda é violenta, primeiro o nada e depois o vento que me escolta num sibilar em crescendo. Sinto-me a desfalecer embriagado em mais um excesso, loucura que procuro quando a vida já não me basta. Sinto a pancada, de pronto, a avisar-me que serei atirado para cima com violência; agora sei que tudo está bem, fosse eu sempre pássaro e não precisava desta máscara, deste esforço, deste embuste. Experimento no arnês a imponderabilidade a transformar-se em gravidade; o trapézio cumpre o seu papel e a minha coluna sente as vibrações da asa que compenso com movimentos ora bruscos, ora suaves. A retranca nas mãos é leme certeiro... woooou!!!!... e subo agora na térmica para voo mais alto! Ao longe, lá na praia, um menino grita em espanto... “mamã, mamã, um anjo a voar!”.
There used to be a greying tower alone on the sea...
KARAOKE
(Kiss from a rose, Seal)
MP3, Lyrics
(A música certa para este texto seria o Killer do Seal mas que não encontrei. Fica esta de que também gosto.)
Nota: Um texto é um exercício de escrita, nem tudo é falso, nem tudo é útil...
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