sexta-feira, setembro 08, 2006

Só à chapada!

Os políticos cansam-me. Mas o que me irrita, aquele formigueiro que só resolvemos com um par de lambadas, é ouvir um político eloquente a utilizar a sua inteligência invulgar para o mais desprezível dos raciocínios, a demagogia!
Não tenho apreço pelo Jorge Coelho, de quem se questiona a integridade, mas hoje venho em sua defesa porque o óbvio deve ser aceite como verdade inquestionável.
O personagem, que não deixa de ser uma criatura afável, respondia a Pacheco Pereira, homem de cultura e inteligência ímpar, justificando os dados publicados sobre os incêndios que grassaram este ano no país. Pacheco Pereira surgia demolidor; as medidas foram exageradamente propagandeadas, o planeamento estava errado, a eficácia foi baixa e, para concluir o êxtase, a desgraça deveu-se a tudo isso, a um governo que não ouve e governa mal.
Não discuto a qualidade da política, mas posso falar da eficiência e eficácia da operacionalização da mesma. Não sendo político, muito menos socialista, sinto-me à vontade para o fazer.
Assim, Jorge Coelho afirmava, “nos últimos 5 anos a média ardida foi cerca de 150.000 hectares, sendo a deste ano de 55.000”. Dizia ainda que este ano foi mais húmido devido a um inverno rigoroso, razão que justificava em parte estes números, mas que não se podia deixar de se considerar os novos incentivos dos bombeiros, nem a primeira força de acção, a GNR, que contribuiu para debelar muitos focos de incêndio.
Pacheco Pereira respondia que não, que era uma vergonha, que só não ardera mais porque o que haveria para arder já tinha ardido em anos anteriores.
Jorge Coelho, com muita bonomia, explicou que no ano passado houve cerca de 20.000 focos de incêndio contra os 18.000 deste ano, e que tinham ardido cerca de 300.000 hectares de floresta, razão bastante para se concluir da eficácia das forças de combate aos incêndios. Acrescentou que o novo plano de ordenamento das florestas irá potenciar esta eficácia, mas que os resultados do plano só se sentirão dentro de alguns anos.
Pacheco Pereira negava os dados e afirmava que a inoperância era tal que até ardera parte de um parque nacional, o da Peneda-Gerês. Jorge Coelho explicou-lhe que a manutenção da área ardida desse parque não era da competência do Estado já que pertencia a privados, mas não convenceu o arguente que teimava em defender a ineficácia das medidas e acções.
O que Pacheco não disse é que este ano foi o mais quente de sempre, com várias ondas de calor, nem se lembrou que no tempo de Durão ardeu parte do Pinhal de Leiria, esse sim um parque nacional da competência do Estado. A demagogia não é uma arma para um povo esclarecido, é sim um subterfúgio para a ilusão! Nisso, Pacheco foi mestre!
O que me decepciona é ver este homem de bem, que recusou tributos e outros privilégios, senhor de um raciocínio brilhante, refugiar-se no mais simples, naquilo que a sua consciência mais renega, forçar a inteligência com o absurdo, exercício abruptamente paradoxal.
Lembrei-me, de imediato, do State of the Union speech, discurso anual do presidente americano ao congresso onde este explicita o estado da nação e os objectivos para o próximo ano. Já vi alguns por saber que a política deste país influencia a de todos, mas o que mais me impressiona é ver a bancada da oposição, qualquer que seja o partido no governo, a bater palmas quando anui com o proposto, ou em silêncio quando discorda. Esta diferença é abissal e está na génese do povo, i.e. saber fazer uma crítica construtiva. Os nossos políticos estão a anos-luz desta mentalidade, eles e o povo! Quem poderá dizer que o português aplaude o adversário quando este tem o argumento? Ninguém!
É por tudo isto que me insurjo, por não ver capacidade nem vontade de se fazerem pactos da nação, nem em debates, nem em políticas. De facto, a política não é o futebol, não pode haver paixões cegas. Se assim for, somos nós que continuaremos a andar de bengala enquanto os outros no-la emprestarem!



Veados refugiam-se num ribeiro, também eles dependem de nós!

2 comentários:

Thiago Forrest Gump disse...

João, aqui estamos perto das eleições para presidente, deputado estadual, deputado federal, senador, governador.

Nada está definido, as eleições são em Outubro e até lá estamos na incógnita.

Vou parar por aqui senão estrago meu almoço.

João Mãos de Tesoura disse...

thiago: e que incógnita! Quando será que o Brasil ganha rumo?