Projecto: esta é uma história a várias mãos. Eu dou o ritmo mas os acordes são vossos. Continuem a história na lógica traçada. Boa escrita.
A partir de agora podem acompanhar a história num blogue feito a preceito. A criação continuará a ser feita aqui; o outro blogue servirá para dar consistência ao texto, para permitir seguir o encadeamento dos posts.
Índice: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9
"Porra, continuo a suar!", pensou. Um primeiro encontro é sempre uma novidade, excitante, e este tinha o sabor a proibido.
(João Mãos de Tesoura)
“Excelente! melhor do que imaginava!” – pensava Eva enquanto acendia a última de um conjunto de velas que conduziriam Ricardo até ao seu quarto.
Sentou-se na cama e olhou-se no grande espelho em frente. Só lhe conhecia a voz. Era quanto bastava. Por ora. Fechou os olhos.
Ricardo hesitou. Pensou voltar para trás. Mas algo mais forte o impelia ali. A porta estava entreaberta. Empurrou-a devagar. Nem sombra dela. Somente um cheiro forte e adocicado das velas queimadas. Premiu o saco contra si. Com a outra mão apoiou-se à parede. Sentia-se tonto. Hesitou mais uma vez mas agora era tarde de mais. Caminhava arrastando pernas e braços e na sua cabeça ecoavam as palavras dela. “Agora vem!”, “Agora vem!”.
Parou à entrada do quarto. Um corpo, o dela, ali, naquela cama, como ele imaginara, ao som duma música suave, em carícias ritmadas.
(MWoman)
Sorriram um no outro, não era hora de palavras e eles desejavam-se. Ricardo avançou para ela e, de rompante, ouviu-se um tiro. O som do petardo ecoou no quarto num grito insuportável. Ele olhou-a perplexo. O negro da noite invadiu-lhe a visão, nada via nem sentia, nada, estava exangue.
A letargia durou uns segundos, não mais do que isso; tudo regressava agora, primeiro a dor e depois os detalhes do cenário. Na mão, uma Beretta de 9 milímetros quente denunciava o disparo recente. “Não pode ser, não pode...”, o quarto era agora uma sala sem mobília, ao fundo uma salamandra e uma porta... “Quem está aí?” balbuciou ao descortinar um vulto a sair da sala. Uma pontada invadiu-lhe a perna, olhou-a, uma bala tinha feito o seu trabalho.
Passaram-se três horas desde que saíra de casa, recordava-se disso pelo telefonema que fizera. Carolina atendia sempre, estava sempre disponível. Recordava-se dela ter ficado assustada, contudo não se lembrava da conversa, fora tudo apagado. Perdera-se nas memórias, isso sim, e aquele tempo ficara em branco.
Esta casa era-lhe desconhecida, completamente estranha. Sentiu medo, iria sucumbir.
(João Mãos de Tesoura)
Naquele breve instante lembrou-a, dias atrás, quando ela lhe sussurrava ao telefone um momento íntimo e já passado. Uma fantasia nunca esquecida, contada com palavras de suaves tonalidades a dar a noção da pátina do tempo, ganhando colorido sempre que a emoção, a afectividade dela transbordava, quente e sensual, na narrativa daquele retalho da vida.
Havia palavras que ditas por ela o deixavam palpipante, que se transformavam em beijos ardentes que quase sentia no corpo, por horas e horas. Então, ele experimentava uma vontade louca de a abraçar, de a beijar, de a cobrir, de a penetrar, de a fazer sua, de cevar bem dentro do corpo dela, de se molhar nela…de lhe sentir a respiração, o seu palpitar, fêmea, amante, companheira clandestina… E lembrava-se como naquela noite ficou só, se acariciou enquanto a pensava e lhe lembrava o rosto, sentindo-lhe os seios, o ventre, passeando os lábios longamente pelas coxas, bebendo –lhe o prazer e sentindo o dele, deixando-se ficar inundado até adormecer.
(Tati)
Estendeu a mão e balbuciou “Eva...". Acordou com o som do telemóvel. A dor regressava agora sem tréguas. Sentou-se, não tinha perdido muito sangue. Com a camisa fez um garrote e levantou-se. A sala cheirava a tinta e o chão da sala não tinha pavimento. “Que faço eu num apartamento novo?”. Nada fazia sentido, nada, a não ser a dor lancinante que o atormentava.
(João Mãos de Tesoura)
As memórias eram muito fortes...
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