Os últimos meses têm sido uma lição de estratégia política. De facto, a saída do Durão ainda irá ser estudada com um dos mais interessantes “politic case” da história da democracia portuguesa. Atendamos a factos!
Durão:
Subiu ao leme do PSD num momento cinzento da vida do PSD; Marcelo Rebelo de Sousa, analista eclético, não resistiu às manobras de Portas. Ainda não se refez ... a exposição pública das pressões que sofreu para não atenuar as críticas ao governo não tinha como alvo Santana mas sim Portas. Os barões laranjas nunca se refizeram e a guerra contra a “AD” estava lançada.
Ninguém acreditava que Durão sobrevivesse até às eleições (basta relembrar o congresso em que se defrontou com Santana e Marques Mendes) mas a demissão de Guterres apanhou tudo e todos de surpresa. Este debandou antes que o corressem; não nos esqueçamos que o PS não tinha uma maioria absoluta.
A pesada herança de Guterres, que tinha herdado uma economia relativamente equilibrada e beneficiou do crescimento do mercado internacional (foram os anos de ouro da América e que ficarão sempre associados a Bill Clinton), foi paulatinamente controlada, com alguma cosmética é certo, pelo seu executivo. A austeridade de Manuela Ferreira Leite estava acima de qualquer suspeita. No entanto, o mercado e o aparelho de estado não ajudaram. O controlo de custos sem rumo fez com que muitos projectos de reforma e alguma actividade corrente ficassem comprometidos. Durão sabia que o futuro não iria ser brilhante. Os problemas na Saúde, Educação e Justiça viriam a confirmá-lo. O crescimento das falências e desemprego e a apatia que se abateu sobre o País pareciam irreversíveis.
A oportunidade foi servida numa bandeja de ouro; prestigiante para Portugal é certo, mas libertadora para Durão. Assumindo o lugar de presidente da Comissão Europeia, Durão sabia que nunca mais regressaria à vida política portuguesa. Outros voos depois deste se seguirão, mas no quadro da política internacional; ganhámos um senador.
A escolha do delfim não seria assim ingénua. Manuela Ferreira Leite, a sucessora natural, foi preterida para a revelação do partido, o benjamim desejado. Tinha com ele os media, os intelectuais, os artistas; os prescritores estavam garantidos. Acresce que Durão tinha contas a ajustar com Santana, ódios antigos. Ele sabia que o seu sucessor dificilmente conseguiria ganhar as próximas eleições. Seria fácil oferecer esta prenda (Santana jamais recusaria, o homem tem uma ambição cega) e satisfazer os barões do partido que sempre o viram como uma ameaça; haveria de cair por si só e lá estariam eles para ajudar e aplaudir ... a incubadora iria rebentar!
Santana:
Começa com um novo executivo, não que quisesse imprimir um novo estilo mas tão-somente porque a maioria dos governantes não estava disponível. A tomada de posse mostrou a fragilidade do PM e a perplexidade de Portas. Durão sorria.
Álvaro Barreto sacrificou-se à causa. Preterido nas celuloses, restava-lhe uma última oportunidade de governação. O fora de prazo desta escolha veio a revelar-se pela ausência do número dois; o homem já não decidia, pensava e isso bastava-lhe. Santana estava só, dentro e fora do governo. Faltava-lhe o homem do aparelho. Mais tarde, o seu presidente de bancada parlamentar viria a confirmar na SIC que o PM tinha efectuado alguns erros mas nenhum que justificasse a sua queda; a solidariedade era evidente ...
Os seus ministros não se distinguiram. Gomes da Silva e Morais Sarmento criaram anticorpos com os media; Maria do Carmo Seabra fez tremer o país e colocou pais e professores em estado de prevenção; Luís Filipe Pereira continuou o desatino na Saúde que já trazia do anterior executivo; Mexia parecia corajoso mas estava rodeado de muitos interesses; os outros ministros nem chegaram a fazer-se sentir.
O aliado conseguiu provar melhor. Portas, percebendo a derrocada, nunca se mostrou. Bagão Félix apareceu sempre como a segunda figura do estado; para todos os efeitos era ele quem substituía Manuela Ferreira Leite. A solidez que apresentava e a bonomia que oferecia eram o elixir que Portas necessitava. O ministro da Justiça, que ninguém recordará, foi capaz de fazer esquecer o desaire da anterior que de Celeste tinha pouco.
Um nado morto sem vocação para a acção executiva nem aliados que o acudam. A campanha eleitoral vai mostrar um homem novo a mover-se em águas que domina, mas será tarde de mais. Menos de dois meses não lhe dará tempo para recuperar a desvantagem nas sondagens, nem interromper a dinâmica de oposição que logrou ganhar de todos os sectores. Nunca em quatro meses se produziram tantos demónios, nunca sem a ajuda dos seus anjos!
(a continuar)
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