domingo, março 21, 2004

ZAPATADA

A abertura do governo espanhol ao diálogo com a ETA terá proporções bíblicas. Um estadista pacifista ao confundir um ideal com a realidade cria precedentes com custos sociais imprevisíveis. A política está cheia de ingénuos.

Servem para comparação os regimes comunistas da ex-União Soviética e da China. Ambos careciam de mudança, mas o ímpeto de uns face à prudência de outros fez a diferença.

O regresso da Rússia trouxe ao mundo a monopolização do poder, e as maiorias, mesmo em democracia, não carecem de sufrágio. A tentação para impor um modelo é grande, ficando ameaçada a diversidade cultural. Expõem-se ainda as fragilidades de nações multiraciais, onde as divisões são saldadas em sangue; a ex-Jugoslávia foi disso expoente.
Com a globalização, o acesso à informação cria sensibilidades colectivas a que dificilmente um estadista ficará alheio, a maioria das vezes por oportunidade política. Disso tiram partido os agiotas, na figura de terroristas ou noutra qualquer. Corrupção, extorsão e outras formas de crime são hoje o dia-a-dia de uma Rússia à procura de um futuro.

A China está a criar uma economia de mercado. Se Tianamen foi brutal, a abertura à democracia de forma imediata e sem concessões poderia ter sido fatal. Caminham, assim, de injustiça em injustiça para a democracia. Não será o melhor modelo, no entanto, por comparação, não é certamente o pior. Os ocidentais não têm a paciência dos chineses.

Por fim, o mais importante para nós: somos por proximidade incontornáveis na solução, e numa Península diferente seremos maiores, basta servirmos de catalisador dos interesses comuns. Se perdemos a dimensão de um império podemos agora tomar a dimensão de uma Ibéria. Portugal poderá vir a ganhar com a divisão!


Referi num post anterior que Portugal precisa neste momento de uma Espanha forte. Continuo a pensá-lo, essencialmente agora que haverá alargamento da UE. A divisão, essa, trará frutos mais tarde. Que se faça de forma moderada, a bem do mundo!

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