Saiu-me em sorte ver-te
assim prostrado em dor,
sem doença ou torpor
que me acalentasse a razão;
Foi o simples conhecer-te
em teus olhos perdidos,
sem mãos que implorassem
ajuda, carinho ou pão.
Saiu-me em sorte ver-te
indiferente e sem destino,
a ti que te achava seguro
em movimentos de felino;
Na sombra da vergonha,
que me chegou arqueada,
veio o fardo e a peçonha:
emprego, família, nada!
Saiu-me em sorte ver-te
grande e pequeno,
cheio e vazio,
e saber, sem o sentir,
que a vida é ténue, um fio.
In memorium: 1 milhão de pobres em Portugal!
Pobre será também o poema, mas a vontade era muita!
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