Sinto o copo a escorregar-me lentamente da mão. Não ofereço resistência; a percepção do acto iria perder-se no sono que me conquistava. O álcool povoou-me as veias e o sonho veio em espiral.
As imagens sobrepõem-se umas às outras numa cadência publicitária sem mensagem ou alvo. As cores fortes dão agora lugar a arrepios azuis. O copo caíra no meu colo e rolara sobre a perna para o chão. O pouco whisky que restara marcou em ziguezague as minhas calças. O azul abriu-se em leque numa explosão de cores com o estilhaçar do copo na perna da mesa. Do eco fiz a música que marcava distintamente uma conversa entre dois estranhos.
Estava agora mais próximo; sim, era alguém familiar e profundamente sentido. Olhei-a de frente e reconheci-lhe os trejeitos, não mudara. Estendi-lhe as mãos para a abraçar e agarrei o vazio. Os sentidos libertaram-se para dar lugar ao descanso imperturbável. Longe de mim acreditar que por detrás do paraíso há uma vida real.
Num mundo de sonhos só há heróis.
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