Cego do nada
tem vergonha no saber
sem nada mais ser
A minha primeira e última incursão no Haiku! Prefiro quebrar métricas e rimas.
A viagem durava e prometia
por estradas e caminhos tortuosos
e a auto-estrada ali ao lado!
Três versos: japão, natureza, mulher!
Nota: o haiku é um poema de três versos de origem japonesa, escrito em linguagem simples, sem rima, com dezessete sílabas poéticas (sendo cinco no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro). Assim, o haiku é a arte de dizer o máximo com o mínimo. Cada haiku capta um momento de experiência, um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida. (in Wikipedia)
12 comentários:
Preciosismo: gosto mais da expressão "sílabas métricas".
(Manias...sei lá!)
cerejinha: que dizer? talvez como alguém registou para a eternidade, "estás tão tétrica, tão meditabunda, que eu media-te a bunda com a fita métrica!" :D
Brinco!
Beijos
A mulher é linda.
João, foi feliz na escolha da imagem, ah se foi...
thiago: no resto é que não! :D
Uma fita métrica não chega...duas quiçá?! LOL
Bjs
cerejinha: das pequeninas? :) Vá, não sejas tonta! :D
Bjs
João, não te esqueças que deves contar as sílabas até à última sílaba tónica i.e. as que são atónas não se contam
Cego do nada ce-go-do-ná (da) 4
tem vergonha no saber 7
sem nada mais ser 5
Era só um pequeno preciosismo porque sei que gostas de fazer bem as coisas quando queres assim.
Gostei! Devias escrever mais haikus porque nem todos dominam a arte poética da síntese :)
jacky: obrigado, não fazia ideia! Aliás, investiguei previamente a estrutura dos haikus e nunca encontrei referência a sílabas tónicas. Nem em sites ingleses nem em sites brasileiros que, como sabes, têm uma grande comunidade japonesa. Li, inclusivamente, alguns haikus brasileiros onde a regra que referes não é cumprida. Onde encontraste essa referência?
P.S. Pela tua lógica, no último verso do meu haiku só se contava 1 sílaba e não 5.
João, o português tem particularidades que outras línguas não têm... Em inglês e francês todas as sílabas têm a mesma importância quanto à acentuação, por ex.
No português, quando se escreve um poema, a acentuação conta porque faz parte duma certa rítmica. Os sonetos por ex usam decassílabos e precisam de serem acentuados em determinadas sílabas para ficarem perfeitos.
Neste caso dos haikus e nos restantes poemas em português, contas as sílabas até à última palavra e a acentuação recai na última sílaba acentuada:
olha como és linda - o-lha-c'o-m'es-lin (da) 5 sílabas
porque aqui aglutinas as vogais na palavra anterior, técnica que os poetas usavam muito para que a métrica desse certa...
Pronto, fazes como quiseres, era só uma pequena explicação, porque na verdade, para podermos quebrar as regras, não há nada como saber como elas funcionam para podermos fazê-lo melhor.
Beijinhos
jacky: tens toda a razão no que dizes relativamente à poesia portuguesa. De facto, a contagem métrica é distinta da gramatical, e a sílaba métrica é a última sílaba tónica.
Acrescentas o exemplo dos sonetos onde se podem forçar novas sílabas tónicas para cumprir a rima. Eu complemento: no atraso das mesmas temos as sístoles e no avanço as diástoles.
Eu acrescento também o conceito de rima que é classisficada como consoante quando, a partir da vogal da última sílaba tónica de cada verso, se verifica a referida identidade em todos os sons, vogais e consoantes. Se esta identidade atinge apenas as vogais, a rima diz-se toante.
No exemplo que dás da contracção da última vogal de uma palavra com a primeira vogal da palavra seguinte, posso acrescentar as seguintes variantes.
Sinalefa - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra se transfroma numa semi-vogal, formando um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte (Atrasado, ele... = a/tra/sa/du / e/le > a/tra/sa/dwe/le).
Elisão - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é completamente assimilada pela vogal que inicia a palavra seguinte, desaparecendo (Ela ouviu... = e/la / ou/viu > e/lou/viu).
Crase - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é igual à vogal que inicia a palavra seguinte, pelo que elas se fundem numa só (A casa amarela... = a / ca/sa / a/ma/re/la > a / ca/sa/ma/re/la).
Ectlipe - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é nasal, perdendo a sua nasalidade para formar um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte (com as colegas... = cõ / as / co/le/gas > cuas / co/le/gas).
Mas há excepções à contracção! Quando duas vogais tónicas estão lado a lado, não pode haver contracção das duas, pelo que ocorre um Hiato, ou seja, mantêm-se em sílabas independentes mesmo que uma das sílabas tónicas enfraqueça (Tu ontem... = tu / on/tem).
Para além da contracção entre palavras, existem peculiaridades quando esta se dá dentro de uma palavra. Assim, temos a Sinérese quando há a união de duas vogais no interior de uma mesma palavra, que originalmente não formavam ditongo, de modo a que constituam uma única sílaba (pie/da/de).
Por oposição, temos a Diérese quando há a separação de duas vogais seguidas dentro de uma mesma palavra, de modo que constituam duas sílabas diferentes (sa/u/da/de).
Enfim, métricas! Contudo, não me parece que as nossas regras devam ser aplicadas à poesia japonesa; assim, obedeci só às regras do Haiku. Preciosismo meu! Tu dirás que ele foi escrito na língua de Camões. Preciosismo teu!
Nestas coisas das métricas, eu prefiro ser escanção a escansão! ;)
Beijinhos
João, o meu comentário informativo era apenas isso. Tu sabes que também escrevo haikus por divertimento e que nem sempre obedeço à métrica se não me apetecer.
Escreve-os como achares melhor e como te der mais prazer, pelo menos, deu para recordares umas luzes de versificação.
Só mais uma coisinha, os brasileiros deturparam a temática dos haikus. Os haikus japoneses reflectem temas como a natureza e tudo o que é simples. Nós, os latinos, é que gostamos de filosofar e dissertar sobre o abstracto. Se queres mesmo escrever haikus japoneses, então escolhe antes como temas as flores, as árvores, as estações do ano, etc...
(Estou a gostar deste nosso debate de ideias)
Beijinhos
jacky: a piada disto é o debate. Eu sei que os japoneses apelam à natureza. E nisso eles são bem abstractos. E porquê? As principais religiões são o o Xintoísmo (51,3%) e o Budismo (38,3%). O Cristianismo é a terceira religião,1,2%, e chegou em 1549 ao Japão com São Francisco Xavier. Assim, as principais religiões são contemplativas, preocupam-se com o simples, o homem e a natureza. Bem, os Hindus não ficaram atrás! Ao nível da abstracção batem todos!
Nós, os ocidentais, é que complicámos isto tudo! Introduzimos o humano no transcendente. Beijos
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