Sou do tempo em que para se cortar o cabelo se ia ao barbeiro. E que instituição; falava-se de futebol, política e mulheres. Tudo com muita sapiência e quão não raras vezes alguma confidência, “ainda ontem esteve aqui o ... que me disse que ...” ao que se seguiam algumas exclamações e negações! Era miúdo e tudo aquilo me fazia espanto. Cresci já em cabeleireiros porque o meu cabelo rebelde não permite devaneios de barbeiros, mesmo se em Sevilha.
Lavar a cabeça é o melhor do menu; sento-me numa cadeira que faz massagens e a menina de serviço entranha os seus dóceis dedos no meu couro cabeludo. Depois é fechar os olhos e agradecer por estar vivo! Mas esta sensação dura pouco; começo a ouvir conversas perdidas. A miúda ao meu lado fala do namorado; pela descrição o gajo deve ser um modelo de pessoa, é bom ver alguém iludido. Mais ao longe fala-se de férias; quem as ouvir pensa estar no National Geographic, as descrições são tantas que custa imaginar que estiveram lá. Uma empregada queixa-se à colega que o marido não a ajuda e por isso tem de ir mais cedo para casa; abstenho-me de reproduzir o resto.
Levam-me agora para a cadeira de corte ... “Como quer?” ao que invariavelmente respondo “Como de costume!”. O corte é rápido; a conversa não. Vou ouvindo enquanto finjo folhear uma revista qualquer já velha e gasta de tanto ser manuseada. As conversas ao meu lado tornam-se mais extraordinárias enquanto a manicura ia pintando uma flor numa unha do pé da senhora. Ela estava histérica, a satisfação era tamanha que receei o pior.
Paguei e saí como novo. Só me ocorreu um pensamento: Cabeça de mulher só cabeleireiro é que entende!
Heresia ... mas não resisti!
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