Um jogo, um desafio, um logro, uma piada, estaria disposto ao preço anunciado.
Avancei sem receio com um sorriso meio parvo numa cara marcada pela rotina e algumas provações. Um gesto, sim, sem dúvida, seria um gesto, fugidio, mas um gesto que se perdera no virar do corredor. Acelerei na esperança de não perder o encontro. Agora o peso das minhas passadas faziam-se notar naquele soalho gasto por tantos trabalhos, tempos e contratempos. Contornei o corredor. Um lenço... hahahahaha! Não resisti, soltei uma gargalhada farta, cheia, como um miúdo surpreso com o novo brinquedo. Num movimento lento, numa rotação perfeita, dobro-me para o agarrar. Encosto-o à minha face e retorno à vertical sem o tirar da cara. Inebriado, completamente, com todos os sentidos a despertarem. O que era curiosidade agora era desejo, sim, aventura. Abri a porta que assoma à rua e avistei um carro que acendia os faróis. Arrancou de mansinho e, sem pressas, deu a volta para passar perto de mim. Os vidros embaciados por alguém que fizera espera não denunciavam o condutor. Cabelos longos, sim, soltos na aragem que o ar-condicionado proporciona. Acompanhei-a em passos largos à medida que o carro se afastava. Distinguia agora distintamente um desenho numa das janelas, algo onde um dedo atrevido resolveu provocar. Ao meio um oito deitado, sinal de infinito, rodeado das impressões das suas mãos, como se o quisesse segurar... parei, olhei para a chave do escritório e lancei-a o mais longe que consegui! Haveria de conhecê-la, o infinito é uma eternidade.

Acompanhar o texto com esta música!