quinta-feira, abril 20, 2006

Conversa de café

Portugal anda animado com as OPAs (ofertas públicas de aquisição). Mas o que é uma OPA?

Uma das formas das empresas se financiarem é através da colocação do seu capital próprio(i) num mercado bolsista. Ganham as empresas pois têm acesso a capital sem ter de suportar juros, esperam ganhar os accionistas(ii) com a valorização das acções(iii) e distribuição de dividendos(iv).

Quando a maioria do capital (leia-se mais de 50%) estiver na posse de um núcleo duro de accionistas o problema de uma aquisição hostil não se coloca. Neste caso, o potencial comprador da empresa negoceia directamente com os accionistas.
Se o capital estiver muito pulverizado há sempre a possibilidade de alguém tentar comprar acções dispersas no mercado que lhe dêem o controlo da empresa, i.e. a adquirir mais de 50% do capital. O potencial comprador tem à sua disposição um instrumento, a OPA, para colocar a sua intenção de compra no mercado bolsista. Inicia-se deste modo uma operação que permite a outros apresentarem melhores propostas de compra (contra-OPA) num prazo determinado. É nesta situação que se encontra a PT e o BPI, empresas muito expostas a aquisições hostis. E hostis porquê?

Quando o capital está muito disperso dá-se o caricato de a administração ser da confiança de um núcleo minoritário de accionistas; i.e. mesmo não tendo a maioria do capital eles mandam na empresa! Não acredita? Você terá eventualmente acções da PT e nunca participou numa assembleia-geral nem votou ou impugnou decisões da administração, mas pode! Percebe-se agora o porquê da indignação das administrações da PT e BPI, as OPA são hostis para as minorias que governam as respectivas sociedades.

No caso do BPI é argumentado que os resultados deste banco comparados com o do potencial comprador, o BCP, têm sido melhores tanto na valorização das acções como na distribuição dos dividendos. Pretende a administração provar aos accionistas que são melhores gestores do que a equipa do BCP. Contudo, este argumento enferma de dois erros. Primeiro, não passa de um grito de desespero da minoria de accionistas que nomearam a actual administração; segundo, os restantes accionistas não estão preocupados com a gestão passada ou futura do BCP, o que pesará na sua decisão é saber se o valor que o BCP paga pelas acções é superior às expectativas que têm com a continuidade da actual administração. Assim, a decisão de venda prende-se tão-somente com o preço que o comprador dá face ao valor hipotético que as acções têm se não forem vendidas, i.e. à comparação de um valor garantido com outro que depende da manutenção do negócio e dos projectos de crescimento que a actual equipa de gestão possa implementar. É verdade que a administração do BPI é de primeira água, contudo o mercado bolsista não se movimenta por sentimentalismos, nem os bancos...

No caso da PT a situação é análoga. Parece-me que, ao contrário do BPI, serão vários os compradores mas sem contra-OPAs. E porquê? O Engenheiro Belmiro só quer resolver o problema da Optimus e, para isso, basta-lhe a TMN. Contudo, tem de comprar a PT para poder repartir o bolo. Coloca-se a questão, porque hão-de outros lançar contra-OPAs se o engenheiro está disposto a vender parte da PT? Assim, e em pura especulação, admito que Paes do Amaral e João Pereira Coutinho dividam entre si a Rede Fixa e a TV Cabo. O primeiro vem do sector dos media e domina os meandros da produção de conteúdos (geradores de tráfego), o segundo já está no mercado das telecomunicações e precisa de crescer, têm ambos credibilidade para cativar investidores internacionais. Desta forma Belmiro de Azevedo resolvia parte da necessidade de financiamento da operação. Por fim, não acredito que o estratega da PT, Zeinal Bava, não queira também ele parte do bolo. Afinal, ele foi considerado por três anos consecutivos o melhor CFO (chief financial officer) de telecomunicações o que lhe dá credibilidade perante potenciais investidores. Se a isto somarmos a possibilidade de já estar acordada com a Sonae a venda da operação do Brasil à Telefónica, podemos admitir que a nossa ATT vai ser dividida em várias babies-Bell. Mas isto sou eu a especular; conversa de café dirão... eu não diria melhor!


Vendo, vendo, vendo...

Mais do mesmo...

(i) Conjunto de recursos postos à disposição da empresa pelos seus proprietários.
(ii) Indivíduo, empresa ou entidade pública, titular de acções de uma Sociedade Anónima, ou de qualquer outro tipo de Sociedade Empresarial.
(iii) Título de crédito representativo da participação que os accionistas têm no capital de uma sociedade anónima.
(iv) Fracção do resultado líquido da actividade anual distribuído pelos accionistas.

1 comentário:

João Mãos de Tesoura disse...

Ninguém vai comentar este post... pudera!