Muito ao jeito de uma “press-release”, pois o tempo escasseia, vou aproveitar para analisar o falhanço da OPA da Sonae.com sobre a PT.
- Accionistas de referência com menos de 10% do capital governam a PT.
- O Conselho de Administração (CA) da PT não expressa o capital disperso em bolsa.
- A Sonae desencadeou a maior operação de bolsa de sempre em Portugal.
- A OPA demorou mais de um ano...
- O CA da PT esteve sempre mais preocupado em defender os valores instalados do que o valor da empresa. Inicialmente disse que o preço (9,5 €) da Sonae era baixo. Após o aumento da oferta da Sonae para 10,5 € continuou a achar o preço baixo. Contudo, perante a ameaça, propõe um pacote de remuneração aos accionistas verdadeiramente faraónico. A lógica, não se criando valor, é comprar acções a um valor astronómico (11,5 €) e repartir 5,7 mil milhões de euros em dividendos. Tudo isto com o pêlo do cão, i.e. desnatando a empresa, pois não se conhecem projectos que possam enriquecer a empresa no curto prazo e sabe-se que esta terá de alienar activos (separar redes, etc.). A Sonae, perante tal cenário, contrapõe com as mesmas regalias de dividendos mas mantendo as acções a 10,5 €. Pretendendo ficar com somente 60% do capital da sociedade, a distribuição de dividendos seria menor e mais racional, uma vez que a Sonae prescindia deles durante os primeiros 5 anos de actividade.
- A PT tem os estatutos blindados, i.e. os direitos de voto dos accionistas estão limitados a dez por cento do capital, mesmo que detenham uma percentagem superior no capital. A Sonae, mesmo que obtivesse a maioria do capital, necessitava de desblindar os estatutos para governar a PT. Dos direitos de voto que participaram na assembleia-geral (67% do capital da PT), 43,9% votou a favor da desblindagem, 46,58% votou contra e 9,52% absteve-se. A Sonae perdeu com 48,5% dos votos expressos contra 51,5%.
- O Estado agiu como Pilatos; com uma mão (CGD) não permitiu a desblindagem dos estatutos, com a outra absteve-se de votar por não ser necessário quórum...
- Conclusão: O País perdeu em três frentes.
A primeira prende-se com a transparência. A OPA morreu na secretaria sem ter ido ao mercado, não deixando assim os accionistas mostrarem se estavam dispostos a vender.
A segunda resulta da necessidade de vitalidade na bolsa para dinamizar a economia.
A última, a mais grave, resultará na desvalorização irremediável da PT. Os accionistas vão perder dinheiro, em particular os que não têm intervenção na governação da empresa. Os trabalhadores também perdem; as medidas anunciadas obrigam a um emagrecimento da estrutura maior do que qualquer sinergia que a Sonae pudesse introduzir.
O Estado errou, a PT continua governada por um pequeno grupo de accionistas sem visão estratégica para a empresa. A PT está agora mais exposta a uma OPA hostil por centros de decisão transnacionais, tanto pelo preço como pela debilidade estratégica. Não se ganham duas batalhas seguidas...
A Sonae ganhou, Belmiro de Azevedo mostra visão, capacidade e aversão ao risco. São estas características que fazem dele um grande empresário e não um mero gestor. Pode-se gostar ou não do estilo, mas temos de reconhecer que há poucas pessoas com coragem de concorrer contra o sistema...